quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Confissão auricular, fragmentos de uma farsa

 

In memorian Irmão Anibal Pereira Reis
Manaus, outubro, 2010

Rezava missa todos os dias e a rezava bem. Rezava o breviário diariamente que é obrigação de todo sacerdote. Fazia devoções aos “santos” e a tantas “nossas senhoras”. Administrava os sacramentos. Benzia imagens. Rezava o chamado rosário. E praticava brutais penitências: punha pedrinhas nos meus sapatos para que ferissem meus pés e chicoteava minhas costas com azorrague porque a custa de meu sangue queria merecer a salvação eterna no Céu.

Em Recife criei mais de dois mil órfãos desamparados e protegi centenas e centenas de velhos desvalidos.

Tudo inútil. Meu problema não se resolvia.

Ouvi confissões dos meus fiéis. E o confessionário e constituía na minha maior tortura porque o problema dos meus melhores e mais fervorosos fiéis era o meu problema.

É verdade! A maioria dos que se dizem católicos nenhuma preocupação tem com o problema de sua salvação eterna. Há, porém, católicos ardorosos, sinceros e torturados na busca dessa bênção.

Aliás, quanto mais fervoroso é o católico mais angustiado, mais torturado é.

Se me fosse dado começar de novo minha vida desde criança, nenhuma questão faria de passar por todas as experiências que passei. Menos a do confessionário.

O padre que se converte a Jesus Cristo, sobretudo se exerceu por muitos anos o sacerdócio, carrega marcas inapagáveis. Ele sente a angústia de saber sobre muita gente que, aflita, vai aos confessionários procura de perdão, sem nunca encontrar.

A maior tortura que se inventou tanto para fiéis como para sacerdote sincero chama-se confessionário.

Ainda sinto calafrios ao me recordar de certas – e são muitas – confissões que ouvi...

Preferiria mil e mil vezes jamais tê-las ouvido.

[Excerto do livro Cristo é assim! Salva até padre!!; autor: Dr. Anibal Pereira dos Reis, ex-sacerdote católico romano; pg. 11-12]

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